quinta-feira, 14 de abril de 2011

COMPORTAMENTO: Ser "Bi" está na moda


Qual é o reflexo de tantas cenas públicas e declarações de bissexualidade na cabeça das adolescentes, mulheres em formação? A psicoterapeuta e sexóloga Mara Pusch, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), acredita que o fenômeno da bissexualidade feminina na mídia libera as meninas para o desejo de experimentação inerente aos seres humanos. “Quando uma menina diz que é bissexual, ela talvez nem saiba direito do que está falando. Está apenas querendo descobrir do que gosta, o que quer. Se uma pessoa famosa diz que faz o mesmo, ela se sente mais livre”, afirma. “Nesse treino de sexualidade, as meninas costumam não entender direito o que sentem pela melhor amiga, se é admiração ou atração. E ficam mais confortáveis de colocar à prova.”
 
E onde entram os meninos nisso? Para a psiquiatra Carmita Abdo, muitas vezes eles é que estão no centro de tudo. “São jogos sexuais. Elas sabem que, hoje, beijar a amiga na boca é uma forma de atrair os meninos”, afirma. Del Torres, do Leskut, diz que “virou modinha” as garotas viverem agarradas, sentarem uma no colo da outra ou se beijarem no meio da turma – mesmo que não se digam claramente bissexuais. “Elas acham cool, gostam de chocar e também de atrair os garotos. Mas a verdade é que não se definiram ainda”, diz.

A estudante de marketing paulistana Lygia, de 19 anos, conta que seu primeiro beijo foi aos 9. Na melhor amiga. “Nós estávamos brincando, eu fui chegando perto e a beijei”, diz. Um pouco mais velha, passou a ficar com meninos, mas só porque as amigas faziam o mesmo. No ano passado seguiu seu desejo e ficou de novo com uma menina. “Agora sou lésbica. Acho bom que hoje o preconceito seja menor”, diz.

Ela já contou aos pais e a alguns amigos sobre suas experiências. Outra estudante, Aline, de 16 anos, ficou com uma menina aos 13. Tudo começou quando a amiga contou que gostava de meninas. Alguma coisa a acendeu: “Ainda é cedo para me definir. Hoje eu digo que sou bi. Mas no futuro posso mudar”.

Se a homossexualidade – ou bissexualidade – feminina está mais palatável, é porque vem embrulhada num pacote delicado e feminino. Quando o armário se abre, saem dele mulheres magras, sexy, de batom. É o fenômeno chamado light lesbian chic ou lipstick lesbian, cujo símbolo televisivo é o seriado americano The L word. Nele, um grupo de lésbicas lindas vive histórias de amor repletas de cenas tórridas. Professora de literatura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e autora de livros sobre homossexualidade como As heroínas saem do armário, Lúcia Facco critica a força do modelo da “lésbica de batom” como o único aceito (e até festejado) na sociedade.

“De repente, mulher gostar de mulher entrou na moda. Mas desde que elas tenham características consideradas femininas, que atraiam os olhares masculinos e não choquem”, afirma. Para ela, o imaginário social poderia ser mais bem trabalhado para compreender e aceitar bissexuais e lésbicas de uma maneira geral – bem como todo o universo homossexual. Essa é uma possibilidade. A outra é lembrar às garotas, em casa, que nem tudo o que seus ídolos fazem ou dizem que fazem precisa ser imitado. E que tampouco precisam se deixar levar pelos garotos a fingir que são o que não são.

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