quinta-feira, 22 de setembro de 2011

DIÁLOGO HOMOFÓBICO

Rapaz 1 - Me fala se existe alguma raça boa, de gente honesta que seja defendida pela lei? Viado é defendido pela lei, então meu caro, viado não presta! Assim como político, ladrão, assassino, bandido... se prestasse, a lei não defendia esse povo... índio! E você sabe o que eu achei engraçado? Deve ter muita gente que cai nisso.

(momento em o diálogo esclarece a indignação desse cidadão – ele está conversando com o amigo a respeito de um furto ocorrido em sua casa).

Rapaz 1 - Vai ter troco, eu ando demais nessa cidade, vai ter troco!

Rapaz 2 - Você tem canivete?

Rapaz 1 - Não porque se eu matar eu vou preso. Já que ele quer virar mulher, então transformo ele numa mulher de verdade!

Rapaz 2 - Ah... mas que vou dar uma “zuada” bacana eu vou!

Rapaz 1 - Sei!

Rapaz 2 - Não sei se passo medo e jogo gasolina e ameaço por fogo... e falo, e agora? Prende ele, dá aquele cadeado, como chama? Chave de perna... você trava o pescoço dele no meio da perna...


Logo após gravar essa conversa, não consegui ficar passiva diante de tanto ódio, esclareci ao cidadão sobre o preconceito, sobre a violência gratuita que os homossexuais sofrem. Claro que não foi tão educadamente assim, até porque meu sangue não é de barata, e palavras tão ofensivas assim, não mereciam passar impunes.

Ele, o “rapaz 1”, retomou a conversa dizendo: “ você sabe porquê eu falei isso? Porque o viado entrou na minha casa e roubou um monte de coisa!”

Minha indignação tomou proporção de tal forma, que me vi, no meio da cantina da instituição de ensino superior a qual também estudo, falando em alto e bom som o seguinte: “Mas isso quem tem que julgar é a justiça, não você! E, aliás, você acha certo o que acabou de dizer? Jogar gasolina em um viado e atear fogo? Acha isso bonito? Ta tudo gravado, e isso não ficará assim!”

Isso o que vocês acabaram de ler, foi uma conversa entre dois universitários, que eu tive o desprazer de presenciar. Ora, meu caro, que lei é essa diante de tanta impunidade, de tanta violência gratuita contra os gays, divulgada frequentemente pela mídia.

(...) Em 2010, 260 gays, travestis e lésbicas foram assassinados no Brasil. De acordo com um relatório do Grupo Gay da Bahia (GGB), a cada um dia e meio um homossexual brasileiro é morto. Nos últimos cinco anos, houve aumento de 113% no número de assassinatos de homossexuais. Apenas nos três primeiros meses de 2011 foram 65 assassinatos.
Entre as vítimas, 54% são gays, 42%, travestis e 4%, lésbicas. Para o antropólogo responsável pelo levantamento, Luiz Mott, as estatísticas são inferiores à realidade. “Esses 260 assassinatos documentados são um número subnotificado, porque não há no Brasil estatísticas oficiais de crimes de ódio. Para os homossexuais, a situação é extremamente preocupante.”
O estudo também aponta que o Brasil lidera o ranking mundial de assassinatos de homossexuais. Nos Estados Unidos, foram registrados 14 homicídios de travestis em 2010, enquanto no Brasil, foram 110 assassinatos. Além disso, o risco de um homossexual ser morto violentamente no Brasil é 785% maior que nos Estados Unidos. (...)
Fonte: http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/os-assassinatos-de-homossexuais-em-2010
Luis Nassif
Introdutor do jornalismo de serviços e do jornalismo eletrônico no país.